Você pode viver uma vida de pura e elegante simplicidade, sem filhos, sem trabalho, sem distrações online… e ainda assim estar estressado.
A simplicidade é uma ótima maneira de reduzir o estresse, mas não basta simplificar. Precisamos aprender a chegar à raiz do estresse e da ansiedade. Precisamos aprender a lidar com a causa raiz, mudando a forma como enfrentamos as origens do nosso estresse.
Eu sei disso porque simplifiquei radicalmente minha vida, e o estresse ainda me encontrou.
Convenci minha esposa Eva e nossos seis filhos a se livrarem da maior parte das nossas tralhas. Reduzimos o tamanho da casa, pagamos nossas dívidas com paciência e espaçamos nossos compromissos.
Comecei a meditar, melhorei minha saúde, criei o hábito de correr (e corri maratonas), adotei uma alimentação vegana saudável e integral, aprendi a me concentrar e a superar a procrastinação. Criei sistemas simples e explorei o minimalismo. Meditava todas as manhãs.
E ainda assim, o estresse me encontrava.
Perguntei a mim mesmo: “Se a simplicidade radical, viver sem dívidas, fazer uma coisa de cada vez e o minimalismo não eliminam o estresse, então o que elimina? O que está causando isso?”
A resposta só veio quando comecei a mergulhar mais fundo na prática da atenção plena.
À medida que continuei meditando e explorando práticas de mindfulness, aprendi a identificar o que estava causando meu estresse.
Era o apego. Era a história que eu contava sobre as outras pessoas ou sobre qualquer situação em que eu estivesse. Era minha relutância em deixar ir, e em vez disso, apegar-me firmemente ao que eu queria que o mundo fosse.
Foi apenas quando aprendi a abraçar o mindfulness que me tornei consciente de tudo isso acontecendo.
O Que Você Encontra nas Sombras
Na maior parte do tempo, não estamos muito conscientes do funcionamento interno de nossas mentes. Os pensamentos vêm, sem que os convidemos, e não controlamos nosso pensamento de forma alguma.
Experimente isto: feche os olhos e veja qual pensamento surge a seguir. Você escolheu esse pensamento? De onde ele veio? Você consegue controlar seus pensamentos de forma ordenada?
Descobri, com a prática, que os pensamentos são como coisas selvagens e incontroláveis. Podemos tentar controlá-los, mas nunca chegamos perto de um controle total.
Em vez disso, a coisa mais poderosa que podemos fazer é observar nossos pensamentos. Veja como eles podem nos dominar e nos levar a uma jornada cheia de estresse, ansiedade, frustração ou ressentimento. Veja como podemos criar uma história sobre o que está acontecendo, construir um caso contra outra pessoa, ou um caso defendendo a nós mesmos. E como essas histórias afetam nossa felicidade.
A coisa mais poderosa que podemos fazer é prestar atenção aos nossos pensamentos, em vez de deixá-los viver nas sombras e terem um poder invisível sobre nós.
Ao nos tornarmos observadores de nossos pensamentos, tiramos seu poder. Em vez de serem todo-poderosos, eles se tornam nuvens que podemos observar, flutuando diante de nós.
A Raiz do Nosso Estresse e Ansiedade
Então, o que causa nosso estresse? Pode parecer que são situações externas—o milhão de coisas que temos que fazer, as pessoas irritantes, a situação difícil em que estamos, ou o número esmagador de coisas que chegam até nós.
Mas a situação externa não é a causa raiz do estresse. É a nossa reação à situação externa. São nossos pensamentos, nossa maneira de encarar as coisas e nosso hábito de nos deixarmos levar por esses pensamentos.
Por exemplo, digamos que você esteja estressado com a bagunça na sua casa, ou com a desordem geral na sua vida. Você pode culpar a bagunça como a causa do estresse, mas a verdade é que sempre haverá alguma desordem em algum lugar. Não podemos colocar o mundo inteiro em ordem. A situação externa é o que é.
O problema é que temos uma história sobre a bagunça: não deveria ser assim, queremos uma casa limpa e toda essa bagunça está me deixando ansioso! A história que criamos é o nosso diálogo interno sobre a situação, e o problema é que queremos que as coisas correspondam aos nossos ideais. Quando o mundo externo está bagunçado, ele não corresponde às nossas expectativas, e então ficamos frustrados, ansiosos, estressados.
A causa, então, é o ideal. A história. Nossa tendência de sermos capturados pela história e de não ficarmos satisfeitos com a situação externa.
Trabalhando com o Estresse
Podemos usar o mindfulness para trabalhar com nosso ideal, nossa história e nossa tendência de sermos capturados pela história e rejeitar o momento que está diante de nós.
Primeiro, percebemos que estamos estressados de alguma forma. Nosso hábito mental geralmente é evitar o estresse (rejeitando nossa experiência de estresse), mas na verdade, estar estressado não é um grande problema. Está tudo bem sentir isso. Apenas observe e não entre em pânico.
Depois, podemos simplesmente fazer uma pausa para observar o que está acontecendo. O que está causando nosso estresse? É a bagunça ao nosso redor? Ou talvez outra pessoa esteja nos enlouquecendo. Perceba que estamos insatisfeitos com a situação externa (ou conosco mesmos). Note que temos uma história sobre o que está acontecendo, e ela não está ajudando. Note que temos um ideal sobre a situação, e que o ideal não está sendo atendido. Perceba que estamos capturados pela história, e que não queremos que as coisas sejam como são.
Em seguida, podemos começar a investigar como o estresse se manifesta no corpo, fisicamente. Onde, no corpo, está localizada essa sensação? Quais sensações podemos perceber ali? Podemos ser curiosos sobre essas sensações físicas? Voltar a atenção para o corpo é uma forma de sair da história em nossa mente e entrar no momento presente.
Então, podemos começar a deixar ir o ideal que temos, que não está nos fazendo felizes, mas que, na verdade, está causando o estresse. Podemos, em vez disso, nos abrir para o momento presente.
O que podemos perceber sobre o momento real diante de nós? Podemos simplesmente vê-lo, sem a camada extra de uma história sobre o momento? Sem julgamento, interpretações ou ideais, apenas observar o que está ali?
O que podemos agradecer neste momento diante de nós? Talvez a luz esteja especialmente bonita, ou haja silêncio, ou uma sensação agradável. Talvez possamos simplesmente ser gratos por estarmos vivos, experimentando este momento em particular. Isso é mágico.
Práticas de Mindfulness Sem Esforço
Com o método acima em mente, algumas coisas simples que você pode fazer para praticar mindfulness sem esforço são:
- Sentar-se em quietude todos os dias, pela manhã, focando sua atenção no corpo e na experiência presente. O que você está sentindo? Como está seu corpo? Receba essa experiência como um bom amigo.
- Fazer uma pausa no meio do dia para se autoavaliar. Note como está se sentindo e fique com essa sensação por um momento, explorando-a com curiosidade.
- Quando estiver com raiva, frustrado ou estressado, pratique observar a sensação física no corpo. Por quanto tempo você pode ficar com ela? Pode abrir-se para ela um pouco mais?
- Quando estiver frustrado com outra pessoa, observe seu rosto e veja se consegue sentir gratidão por sua presença na sua vida. Pode encontrar amor no seu coração por ela? Tente entender o que ela está passando. Perceba sua dor e luta, e sinta compaixão.
Praticando esses passos em pequenas doses ao longo do dia, você vai melhorar sua habilidade de estar presente, entender seu estresse e desconforto, e soltar o que não serve, abrindo-se para a beleza do momento presente.
*Leo Babauta é o fundador do Zen Habits, um blog sobre como encontrar simplicidade e mindfulness no caos diário de nossas vidas. Ele mora em Davis, Califórnia, com sua esposa e seis filhos, onde segue uma alimentação vegana, escreve, corre e lê. Leo também mantém um blog focado em simplicidade chamado mnmlist.com. Ele chamou atenção para o The 100 Things Challenge, um método poderoso para adotar uma vida mais simples.