Posts made in janeiro, 2025


Você pode viver uma vida de pura e elegante simplicidade, sem filhos, sem trabalho, sem distrações online… e ainda assim estar estressado.

A simplicidade é uma ótima maneira de reduzir o estresse, mas não basta simplificar. Precisamos aprender a chegar à raiz do estresse e da ansiedade. Precisamos aprender a lidar com a causa raiz, mudando a forma como enfrentamos as origens do nosso estresse.

Eu sei disso porque simplifiquei radicalmente minha vida, e o estresse ainda me encontrou.

Convenci minha esposa Eva e nossos seis filhos a se livrarem da maior parte das nossas tralhas. Reduzimos o tamanho da casa, pagamos nossas dívidas com paciência e espaçamos nossos compromissos.

Comecei a meditar, melhorei minha saúde, criei o hábito de correr (e corri maratonas), adotei uma alimentação vegana saudável e integral, aprendi a me concentrar e a superar a procrastinação. Criei sistemas simples e explorei o minimalismo. Meditava todas as manhãs.

E ainda assim, o estresse me encontrava.

Perguntei a mim mesmo: “Se a simplicidade radical, viver sem dívidas, fazer uma coisa de cada vez e o minimalismo não eliminam o estresse, então o que elimina? O que está causando isso?”

A resposta só veio quando comecei a mergulhar mais fundo na prática da atenção plena.

À medida que continuei meditando e explorando práticas de mindfulness, aprendi a identificar o que estava causando meu estresse.

Era o apego. Era a história que eu contava sobre as outras pessoas ou sobre qualquer situação em que eu estivesse. Era minha relutância em deixar ir, e em vez disso, apegar-me firmemente ao que eu queria que o mundo fosse.

Foi apenas quando aprendi a abraçar o mindfulness que me tornei consciente de tudo isso acontecendo.

O Que Você Encontra nas Sombras

Na maior parte do tempo, não estamos muito conscientes do funcionamento interno de nossas mentes. Os pensamentos vêm, sem que os convidemos, e não controlamos nosso pensamento de forma alguma.

Experimente isto: feche os olhos e veja qual pensamento surge a seguir. Você escolheu esse pensamento? De onde ele veio? Você consegue controlar seus pensamentos de forma ordenada?

Descobri, com a prática, que os pensamentos são como coisas selvagens e incontroláveis. Podemos tentar controlá-los, mas nunca chegamos perto de um controle total.

Em vez disso, a coisa mais poderosa que podemos fazer é observar nossos pensamentos. Veja como eles podem nos dominar e nos levar a uma jornada cheia de estresse, ansiedade, frustração ou ressentimento. Veja como podemos criar uma história sobre o que está acontecendo, construir um caso contra outra pessoa, ou um caso defendendo a nós mesmos. E como essas histórias afetam nossa felicidade.

A coisa mais poderosa que podemos fazer é prestar atenção aos nossos pensamentos, em vez de deixá-los viver nas sombras e terem um poder invisível sobre nós.

Ao nos tornarmos observadores de nossos pensamentos, tiramos seu poder. Em vez de serem todo-poderosos, eles se tornam nuvens que podemos observar, flutuando diante de nós.

A Raiz do Nosso Estresse e Ansiedade

Então, o que causa nosso estresse? Pode parecer que são situações externas—o milhão de coisas que temos que fazer, as pessoas irritantes, a situação difícil em que estamos, ou o número esmagador de coisas que chegam até nós.

Mas a situação externa não é a causa raiz do estresse. É a nossa reação à situação externa. São nossos pensamentos, nossa maneira de encarar as coisas e nosso hábito de nos deixarmos levar por esses pensamentos.

Por exemplo, digamos que você esteja estressado com a bagunça na sua casa, ou com a desordem geral na sua vida. Você pode culpar a bagunça como a causa do estresse, mas a verdade é que sempre haverá alguma desordem em algum lugar. Não podemos colocar o mundo inteiro em ordem. A situação externa é o que é.

O problema é que temos uma história sobre a bagunça: não deveria ser assim, queremos uma casa limpa e toda essa bagunça está me deixando ansioso! A história que criamos é o nosso diálogo interno sobre a situação, e o problema é que queremos que as coisas correspondam aos nossos ideais. Quando o mundo externo está bagunçado, ele não corresponde às nossas expectativas, e então ficamos frustrados, ansiosos, estressados.

A causa, então, é o ideal. A história. Nossa tendência de sermos capturados pela história e de não ficarmos satisfeitos com a situação externa.

Trabalhando com o Estresse

Podemos usar o mindfulness para trabalhar com nosso ideal, nossa história e nossa tendência de sermos capturados pela história e rejeitar o momento que está diante de nós.

Primeiro, percebemos que estamos estressados de alguma forma. Nosso hábito mental geralmente é evitar o estresse (rejeitando nossa experiência de estresse), mas na verdade, estar estressado não é um grande problema. Está tudo bem sentir isso. Apenas observe e não entre em pânico.

Depois, podemos simplesmente fazer uma pausa para observar o que está acontecendo. O que está causando nosso estresse? É a bagunça ao nosso redor? Ou talvez outra pessoa esteja nos enlouquecendo. Perceba que estamos insatisfeitos com a situação externa (ou conosco mesmos). Note que temos uma história sobre o que está acontecendo, e ela não está ajudando. Note que temos um ideal sobre a situação, e que o ideal não está sendo atendido. Perceba que estamos capturados pela história, e que não queremos que as coisas sejam como são.

Em seguida, podemos começar a investigar como o estresse se manifesta no corpo, fisicamente. Onde, no corpo, está localizada essa sensação? Quais sensações podemos perceber ali? Podemos ser curiosos sobre essas sensações físicas? Voltar a atenção para o corpo é uma forma de sair da história em nossa mente e entrar no momento presente.

Então, podemos começar a deixar ir o ideal que temos, que não está nos fazendo felizes, mas que, na verdade, está causando o estresse. Podemos, em vez disso, nos abrir para o momento presente.

O que podemos perceber sobre o momento real diante de nós? Podemos simplesmente vê-lo, sem a camada extra de uma história sobre o momento? Sem julgamento, interpretações ou ideais, apenas observar o que está ali?

O que podemos agradecer neste momento diante de nós? Talvez a luz esteja especialmente bonita, ou haja silêncio, ou uma sensação agradável. Talvez possamos simplesmente ser gratos por estarmos vivos, experimentando este momento em particular. Isso é mágico.

Práticas de Mindfulness Sem Esforço

Com o método acima em mente, algumas coisas simples que você pode fazer para praticar mindfulness sem esforço são:

  1. Sentar-se em quietude todos os dias, pela manhã, focando sua atenção no corpo e na experiência presente. O que você está sentindo? Como está seu corpo? Receba essa experiência como um bom amigo.
  2. Fazer uma pausa no meio do dia para se autoavaliar. Note como está se sentindo e fique com essa sensação por um momento, explorando-a com curiosidade.
  3. Quando estiver com raiva, frustrado ou estressado, pratique observar a sensação física no corpo. Por quanto tempo você pode ficar com ela? Pode abrir-se para ela um pouco mais?
  4. Quando estiver frustrado com outra pessoa, observe seu rosto e veja se consegue sentir gratidão por sua presença na sua vida. Pode encontrar amor no seu coração por ela? Tente entender o que ela está passando. Perceba sua dor e luta, e sinta compaixão.

Praticando esses passos em pequenas doses ao longo do dia, você vai melhorar sua habilidade de estar presente, entender seu estresse e desconforto, e soltar o que não serve, abrindo-se para a beleza do momento presente.

*Leo Babauta é o fundador do Zen Habits, um blog sobre como encontrar simplicidade e mindfulness no caos diário de nossas vidas. Ele mora em Davis, Califórnia, com sua esposa e seis filhos, onde segue uma alimentação vegana, escreve, corre e lê. Leo também mantém um blog focado em simplicidade chamado mnmlist.com. Ele chamou atenção para o The 100 Things Challenge, um método poderoso para adotar uma vida mais simples.

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